Eleições autarquicas e autarcas ... Uma visão da questão
"Eu tento mas nunca consigo levar muito a sério as eleições autárquicas. Não porque sejam eleições menores, protagonizadas por personagens menores. Não porque as campanhas sejam mais burlescas que outras (como se viu em Lisboa). E não porque o sentimento regionalista suba aqui à superfície, com todo o seu ressentimento incendiário e mesquinho.Os autarcas podem fazer jardins, em vez de rotundas; podem recuperar o património, em vez de licenciamentos à bruta. Sucede que algumas décadas de poder local não nos permitem ser optimistas ou entusiastas sobre a experiência. Para um vasto número de municípios deste país a única solução era mesmo começar de novo, regressar a um passado de inocência, imputar responsabilidades, antecipar erros. Eu, por exemplo, não cresci no centro de Lisboa mas num dos corredores periféricos da cidade. Assisti directamente ao crescimento da desorganização, do caos, do crime urbanístico e ambiental escancarado. Nos anos 70, as pessoas que se instalavam nos subúrbios de Lisboa vinham de um país rural. Eram ordeiras e pacatas. Tinham a ambição de fugir ao fatalismo social do salazarismo. Não esperavam muito mais. Infelizmente, os autarcas que elas elegeram foram contribuindo para tornar os subúrbios em zonas inabitáveis. E nunca ninguém os responsabilizou por isso. O crime compensa.O localismo e a subsidiariedade são princípios estimáveis, mas, desgraçadamente, nunca resultaram como deviam em Portugal. Diz-se que os problemas políticos se resolvem melhor se o poder estiver perto deles. Mas não se diz que a aproximação do poder às populações produz corrupção e caciquismo. Não se diz que o poder se torna perigoso e funesto nas mãos erradas. Small is beautiful é uma figura de estilo generosa. Mas é também uma questão de acaso e de fé."
por: Pedro Lomba
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